segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Que Se Foi.

Agora a pouco estava escrevendo, escrevendo, escrevendo... E bateu um choque de realidade. A parte mais cruel da realidade! Pensei: Relaxa e respira... Não é isso... É apenas um restinho do sono que veio na madrugada, um pouco do sonho estranho que vivi... Respingo de solidão... Volte nego... Volte para os braços do deus do sono. Volte e assim voltando, volte a sonhar. Olhei para um lado e para outro e o caminho tinha se apagado. Uma lágrima caiu. Não posso. Não devo. Não tenho o direito. Parei de escrever! Se foi a minha inspiração. Parei de escrever. Deixo acolá guardado no livrinho, caderninho, papel de jornal, meus rascunhos me olhando e esperando uma continuação. Mas na verdade sou eu que espera que me continuem, que me rabisquem, escrevam, que me leiam. Que me guardem como impresso único.

Yuri Montezuma

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Te(rra)tro

O Te (rra) troO teatro está se perdendo... (explicando melhor - se perder é uma forma de se encontrar. Antes que leiam de outra forma) Como dizia o mestre do Teatro de Arte de Moscou no ano 1938 em uma de suas cartas... "O riso não deve ser provocado... Isso é um erro", cada frase boba que ele dizia a platéia caía em gargalhadas... Ele não queria forçar o riso, mas estava envolto na esfera de sua personagem. Em cada frase, cada pequeno texto, andar, todos ficavam atentos e o teatro parecia respirar com o ator. Mas o que vi no primeiro instante... A reação de um ator ao sentir que uma piada deu certo, que a platéia caiu em risos. Seu olhar deu-se conta que não estava só e gostou do riso, do regozijo, sentiu prazer e decidiu sair da esfera que envolvia sua personagem e por fim decidiu tomar conta de sua carcaça. Carcaça que havia emprestado conscientemente para ser usada para outro contar uma história. Sua história... A história da personagem. Ao tomar tal atitude quis aparecer como homem comum, orgulhoso, sem humildade, medíocre (Mediano, Ok?) e tenta fazer todos os olhos rirem, mas já é tarde. As bocas vão se crispando e os narizes forçando uma lateral.Ele se esforça e usa sua técnica, mas nada parece fazer efeito. De um instante para o outro ele cansa e se entrega. Se anula e a platéia volta a soltar gargalhadas violentas. Risos e mais risos.Ele por fim tirando a maquilagem pergunta-se. O que aconteceu?E um amigo batendo-lhe o ombro - Hoje você atuou!Foi o que vi na Semana do Teatro. Desde do seminário, as apresentações e as relações interpessoais. O crescimento técnico de alguns espetáculos e a queda técnica de outros. Uma apresentação não diz a real condição técnica dos espetáculos, mas mostra que faltou um pouquinho de açúcar. É isso... Tinha sal de mais e pouco açúcar... Sal para achar erros e defeitos... e pouco açúcar para enxergar os ganhos de qualidade, de técnica, de vida do espetáculo (s). Engatinhando nesse mundo de gerenciar, orientar ou dirigir pessoas em cena, aprendi muito sobre o que posso fazer em cena e o que realmente não quero fazer. De alguma forma todos contribuíram para o meu aprendizado. Seja no palco, seja nos corredores, seja pelos telefonemas.E como disse no começo ... O Teatro está se perdendo... A forma, técnica, os valores antigos (meus) estão se perdendo. Isso nesse caso é bom. Significa renascimento.Meu muito obrigado. Yuri Montezuma

terça-feira, 12 de março de 2013

Contos da Madrugada - A mulher do Ônibus

Segunda de um dia qualquer...

Relato I

Acordo todos os dias religiosamente  4:30 da manhã para poder ir ao trabalho, pois pego dois ônibus e cada um demora mais que o outro. Tomo banho faltando quinze minutos para próxima hora. Sempre um banho rápido. Tomo o café que deixo preparado do dia anterior, normalmente ele já está morno, como bolacha na maioria das vezes já que deixar pão por muito tempo na cesta sem consumi-lo estraga. De passagem digo logo que sou esquecido e acabo esquecendo de comer pão antes que literalmente meu dinheiro vá para o lixo. Apesar de gostar muito de pão.
Estou próximo dos trinta, calvo, magro, moreno. Enquanto falo com vocês bebo uma cerveja que já não consigo identificar a marca ou se ainda é gelada ou se estou bebendo um caldo em garrafa. Mas deixando as formalidades e considerando que já somos quase amigos. Quero deixar uma coisa clara entre nós: Estou do seu lado agora. Precisamos trabalhar..
Vou até o portão que parece com uma grade de prisão, cambaleio mais alguns passos até chegar a um segundo portão que sai na rua. Rua que é de terra e que alguns vizinhos jogaram tijolos quebrados para amenizar a poeira no verão e a lama no inverno. Nesse dia ao sair de casa me deparei com uma senhora alta  e magra. Me assustei por que aquela hora só encontrava na escuridão alguns cachorros latindo e alguns gatos vagabundos que faziam o som da noite. A noite era deles e eu passava despercebido para não ser um intruso em uma festa particular, por que gato não mia de graça na madrugada, e me deparo com uma mulher parada como uma estátua.

Ela - Bom dia.

Em uma mistura de medo, tesão e curiosidade, respondi seco - Bom dia - Um arrepio me tomou conta das costas e desceu pelas pernas. Logo me passou pensamentos que não podia acreditar. Queria arrancar seu vestido branco, cabelos que desciam até a bunda, morder.

Ela - indo trabalhar?

Voltando a mim como um carro de corrida e um sorriso culpado -  sim .

Ela - Posso acompanhá-lo até o ponto de ônibus? Acordo muito cedo e aqui é muito perigoso para uma mulher.

Subimos uma rua de terra batida por uns cinco minutos. Suficiente para chegarmos ao ponto de ônibus... Ela me contava coisas sobre o local onde morávamos e de minha parte apenas observava aqueles olhos por entre a escuridão da madrugada fria e cinzenta. Aquele dia parecia mais escuro que o normal, os cachorros que normalmente estariam ladrando sem parar ao ouvir os passos dos pedestres que por lá passavam, dessa vez estavam calados tremendo de medo. Medo de quê?
Você vai pegar a condução? - Insisti querendo sair um pouco daquela conversa de apresentação. Não sou historiador e não tenho a menor vocação para tal coisa.

Sua pressa não leva você a lugar nenhum - respondeu a mulher com uma pedra de gelo nos olhos e isso me fez subir um frio na espinha, a pele mexer cada centímetro como se fosse descolar dos músculos e o mesmo ocorreu com os ossos querendo largar os órgãos. Finquei os pés no chão e continuamos andando.
Mil pensamentos povoavam minha cabeça "como uma mulher tão insegura e com medo a pouco tempo me coloca um medo infernal?"

Não coloquei medo em você ou coloquei? - Pareceu ler meus pensamentos e isso me deixou de garganta seca, voz embargada, mão frias, suadas.
Não, claro que você não me colocou medo. Por que deveria eu ter medo de você? Afinal sou homem e você uma mulher... Sou teoricamente bem mais forte que você, poderia controlar a situação facilmente.

Claro. - Saiu um sorriso no canto do rosto e isso me fez pensar em correr, mas...

O ônibus - Disse aliviado... Poderia sair daquela situação embaraçosa. Ficaria perto de outros como nós e isso poderia reverter o momento de "terror" passado pouco antes. Isso era só mais uma situação de um dia estranho. Eles me olhavam, nos olhos, no peito, no rosto e no sexo. Sonho, pesadelo, fiquei pálido como um fantasma. Nesse meu devaneio fui interrompido.

Não vai passar a roleta? - Me disse ela com naturalidade.

Claro que vou! - O cobrador olhou espantado

Como tudo parecia passar lentamente. Pareceu a cabeça de um embriagado cambaleando nas calçadas e nos becos, escorado no botiquin. Seguimos viagem. A estrada fazendo ondas, me jogava de um lado para o outro. Como se meu corpo já não me obedecesse... Como se tivesse vontade própria, eu estivesse ali?

Sentei na cadeira e tudo aconteceu como se eu estivesse entrando em um túnel. As luzes vindo cada vez mais rápido batendo contra meu peito, meu rosto, contra nós. Em pouco tempo estava em meu destino de todas as madrugadas. O despejo, o local das trocas, o lugar das massas. O Terminal Central. Levantei a bunda magra da cadeira e saí do ônibus como se fosse um zumbir. Sentei em um dos bancos e me dei conta que a mulher tinha sumido, então dei uma volta olhando todas as direções, mas não consegui avistar tal criatura. Foi uma pena por que estava de olho naqueles peitos, pernas, coxas e tudo que tinha de tesão naquele pedaço de carne. O dia deveria ser igual aos outros. Chato, de muito trabalho e novamente voltar para casa fedendo mais que cachorro molhado da chuva, mas de repente senti aquela respiração subir por minhas costas. Tenho certeza que não era humano... Parecia uma fumaça e de repente...

Oi - Ela disse quase encostando no meu ouvido.

Respirei fundo e o ar pareceu rasgar os pulmões, acabei engasgando com minha saliva, nunca senti sensação pior.

Oi - respondi em uma mistura de medo e tesão.

Ela como uma criança curiosa - Você vai pro outro lado da cidade, não é?

Sim... mas vou em direção a vila dos industriais. - Falei firme, absoluto dono de mim.

Também estou indo naquela direção - Disse com um olhar nebuloso.

Você aguarda um segundo enquanto vou buscar um café e alguma coisa para comer... Quer tomar alguma coisa ou comer? - Nunca fui bom com mulheres e isso explica a solidão.

Não - Sorriu.

Fui em direção aos vendedores ambulantes que ali ficavam vendendo de tudo um pouco. Esticando os braços por entre as grades que separavam o interior do exterior da plataforma de passageiros. Uns gritando, outros pegando e outros mostrando suas mercadorias. De minha parte tudo não passava de uma desculpa para me afastar daquela criatura, mas para não passar por mentiroso... Comprei café que era a bebida adequada para quem vai trabalhar tão cedo, alguns pães por que realmente estava faminto e para completar essa dieta saudável alguns pasteis fritos. Quando virei de volta para a plataforma meu ônibus estava a ponto de partir. Corri, quase me queimando com o café que estava fervendo. 
Dessa vez recebi o convite para ir ao seu lado, mas a carga que trazia não permitiu... Sentei ocupando dois bancos. Um com minha carcaça, outro com a comida, por um segundo esqueci aquela mulher...Comi, comi, comi, tudo me pareceu um grane manjá.
Quando acabei de comer estava parando em frente ao meu trabalho (Pausa)

Desculpe não disse como era meu trabalho. É um prédio muito pequeno de dois por dois, mas ao abrir a porta ele se torna em um enorme quarto quilométrico com várias camas e ao lado de cada cama existe uma cadeira que serve para nós sentarmos e assim realizar nossa tarefa.

Voltemos ao que interessa... Depois de comer como um príncipe, enfim estava pronto para começar o dia. O que me espantou foi a receptividade com que os meus companheiros receberam aquela mulher. Muito respeito e ao mesmo tempo espanto. Assinei alguns protocolos e quando olho para meu setor vejo que na minha cama existia duas cadeiras. Uma de um lado e uma outra muito bonita, negra como a escuridão do inferno.
Na hora quis saber do que se tratava, mas todos diziam que era melhor partir para meu setor que tudo iria se esclarecer. Parti temeroso e contando os passos, mas tudo passou rápido e quando percebi estava colocando minha bunda na cadeira. Respirei fundo e...

Oi - Novamente aquela voz do nada.

Olhando disse - Oi... Você!?

Era ela... Mas o que ela faz aqui? Me perguntei sem chão. Tornando a minha racionalidade perguntei. Quem realmente é você?

Não fique preocupado, estou aqui por outra pessoa e não você - Respondeu firme.

De quem então? - Perguntei curioso.

Estou por causa do leitor e que logo mais estará na cama. (Pausa)

Bem, esqueci de informar. Meu trabalho começa logo assim que você vai para cama leitor.

Voltemos para a conversa... Interessante - Respondi

Não digo meu nome para ninguém, mas você foi um moço comportado... Meu nome é MORTE.

Me passou um frio pelo corpo, mas então percebi que não era só eu e sim o ambiente inteiro... Soltei um sorriso amarelo, respirei fundo e disse - O meu nome é PESADELO e todas as noites venho aqui para destruir a noite dele. Quando ele(a) se for como será?

Sempre terá outro(a)... - Rimos

Você ainda vai querer me levar para cama? - Perguntou ela com um olhar maroto.

Olhei e novamente rimos e então disse - Prefiro não arriscar.

Uma nova gargalhada.

Podemos sair depois do expediente e comer, beber alguma coisa e quem sabe até comemorar mais uma vez o seu sucesso. - Falei confiante.

E para minha surpresa a resposta foi sim.

Então meu caro leito te esperamos na cama e por favor não vá se atrasar, pois hoje tem um encontro especial. É sua MORTE. E essa é o tipo de coisa que não se atrasa.

E como disse no começo de nossa história... Estou do seu lado sempre.





                                                                     Yuri Montezuma